24.1.10

Entrevista Jornal Académico

“Preocupo-me em fazer um trabalho de que fique orgulhoso”
Entrevista 22.12.09 17:58

Ficou conhecido do público por ingressar nos EZ Special, em 2002. No entanto, a vontade de se lançar a solo e cantar em Português falou mais alto e fê-lo sair do grupo. Lançou “Prefácio”, em 2007, que incluía os êxitos “Pequeno T2” e “Entre o sol e a lua”, este último, o single de música portuguesa mais tocado nas rádios no ano passado. Este ano, voltou com “O manual do amor” que, segundo o próprio Ricardo Azevedo, “não pretende ensinar nada a ninguém, mas sim que cada um faça o seu próprio manual”. O ACADÉMICO esteve à conversa com ele.

Consideras-te um exemplo para os que começam agora a dar os primeiros passos na música?
Não sei, nunca penso nisso. Mas qualquer pessoa que chega às pessoas, que tem exposição, que aparece na televisão pode ser um exemplo.

Que conselhos davas a essas pessoas que sonham ter uma carreira nesta área?
Aquilo que eu posso dizer é que tudo é possível, mas não é fácil. É como tudo na vida. É muita gente ao molho, a lutar pelo mesmo e não há vaga para todos. Prevalecem sempre aqueles que têm mais qualidade… Nem sempre… Às vezes também há aqueles que têm sorte, mas depois desaparecem logo. Acho que, sobretudo, tem a ver com consistência e com a qualidade. Apesar de ter tido sorte, não foi só sorte, senão, depois podia ter desaparecido. Portanto, é preciso tudo: trabalho, persistência, acreditar no nosso valor e também ter sorte e oportunidades.

Quando compões em que é que te inspiras?
Um bocado em tudo! Eu não penso naquilo que escrevo. Há umas músicas que são mais felizes que outras e surge tudo de forma espontânea. Ponho-me a tocar à viola e aquilo é tipo lotaria. Pode surgir uma música espectacular ou uma que não vale nada.
Eu falo um pouco sobre tudo o que me vem à cabeça, mas tento falar sobre coisas positivas. Mas, eu falo um pouco sobre tudo. Às vezes, ao escrever também tento, de uma forma consciente, fugir ao “mais do mesmo”. Parece que estou sempre a falar sobre a mesma coisa, sobre relações e tento, às vezes, fugir um pouco disso. Quando estou a analisar as minhas canções penso “Vou mudar esta palavra” e, depois, mudo já o sentido da música.

És muito crítico com o teu trabalho?
Claro que sou. Há muitas coisas que escrevo e digo logo que nem vale a pena sequer registar aquilo que fiz agora. Gosto sobretudo de ouvir as minhas canções e de perceber que elas soam e que possa ser uma música que vá agradar às pessoas e que me agrade a mim também. À partida, se me agrada a mim terá mais hipóteses de agradar às pessoas. Tento ser sempre o primeiro crítico, apesar de às vezes ter dúvidas. Então, pergunto a algumas pessoas o que é que elas acham. Às vezes tenho surpresas, músicas que não dava nada por elas e são as favoritas de muitas pessoas. O “Pequeno T2” era uma música que eu não dava muito por ela, que esteve para não entrar no primeiro disco e as pessoas diziam que estava gira. Apesar de gostar dela, do tipo de ritmo dela, que era tipo anos 60. A música acabou por ter um êxito surpreendente para mim também e essas coisas acontecem. Há outras, também, que acho que vão ser um sucesso, porque gosto mesmo delas e não são.

O que é que é mais difícil na carreira artística?
É o equilíbrio. Nunca estar muito lá em cima e depois vir muito para baixo. Uma pessoa conseguir não desaparecer totalmente, o que é natural porque uma pessoa não consegue estar sempre lá em cima. Há sempre coisas novas a surgir e é natural que o artista se afaste um pouco. Esta é a parte mais complicada, porque não somos nós que controlamos isso. Mas isso tem sido bom para mim. Desde que comecei em 2002 que tenho conseguido fazer músicas que têm sido êxitos, mas não controlo essas coisas, simplesmente acontecem. Este trabalho ainda está no início, mas apesar de ainda não estar a correr como o outro, até certo ponto, poderá vir a correr, porque estas coisas acontecem com tempo. E de qualquer forma, também não é isso que eu procuro. Eu preocupo-me em fazer um trabalho de que fique orgulhoso, um conjunto de canções que, depois, mais tarde eu possa ouvir e que possa dizer que fiz ali uma coisa que sinto que é bom de ouvir. Tenho a certeza de que quando ouvir este disco, lá para a frente, vai haver coisas que eu vou gostar. É sempre importante e é sempre imprevisível. Por isso estou bastante optimista. E há artistas que têm carreiras longas, mas ficam afastados durante anos. Tenho de me preparar psicologicamente que isso possa acontecer algum dia, apesar de ser um bocado doloroso porque não estou habituado a isso e não é por isso que vou lutar. Dou sempre o meu melhor e esforço-me por ter reconhecimento por tudo o que faço, mas isso acontece e espero que não aconteça comigo.

Cláudia Fernandes 

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